Monday, March 02, 2009

Programa da Disciplina

Queridos,

Como prometido, disponibilizo a todos o programa da disciplina para orientar nossas atividades neste semestre (2009.2): aviso a todos, e peço que repassem esta informação aos eventuais ausentes que vcs. conheçam, que uma versão impressa do mesmo programa está disponível na pasta do xerox da disciplina. Peço a todos que leiam atentamente o programa, para que possamos ter uma discussão sobre as eventuais dúvidas relativas aos procedimentos da disciplina, e que esta nos tome o mínimo de tempo possível, na próxima aula.

Ad,

Benjamim

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

Disciplina: Semiótica (COM 102)
Horário: 2as e 4as, das 07 às 09:00
Local: Sala 04 (Facom-Ondina)

Ementário: Aspectos históricos das teorias do signo (semiótica e semiologia). Conceitos fundamentais da semiótica e do conceito semiótico de comunicação (signo; significação; interpretação; aspectos pragmáticos da significação; signo, alegoria e metáfora). Fundamentos para a compreensão semiótica de mensagens.

Apresentação: Sob a rubrica de um saber genericamente chamado de semiótica, reconhecemos algumas daquelas disciplinas do campo comunicacional que ficaram com uma incumbência de tratar dos objetos desta, numa perspectiva que os valoriza enquanto processos de estruturação simbólica (em termos mais simples, tomando-os como fatos de linguagem). A um ponto tal isto se estabeleceu que as tarefas deste conjunto de saberes acabaram por se deixar assimilar equivocamente às de uma teoria da comunicação stricto sensu. De um ponto de histórico, entretanto, a origem dos muitos vocábulos pelos quais se designou este tipo de saber (especialmente, no último século, como Semiótica e Semiologia) deixa-nos entrever uma maior latitude de problemas alcançados por estas teorias: a título de exemplo, apenas, consideramos aqui casos tão afastados entre si como o do estudo dos sintomas clínicos, de um lado, do ordenamento simbólico das sociedades e das práticas humanas, de outro, a interpretação de textos sagrados e ainda o da estruturação lógico-discursiva do pensamento.

Nestes termos, a caracterização de uma "teoria geral da significação" (é nestes termos que Umberto Eco fala, em vários de seus livros, da possibilidade de uma Semiótica Geral) implicaria precisamente a suposição de uma espécie hipotética de unificação epistemológica de todo este imenso campo de discursos teóricos, em nome de uma ciência da compreensão e da interpretação (oxalá também do conhecimento): vislumbraríamos aí uma espécie de concepção sobre o caráter último de construtividade simbólica do mundo (e que seria a demarcação liminar de toda nossa experiência da realidade), no modo como a interpretamos, nos exprimimos sobre ela, a representamos, ou mesmo como simplesmente a sentimos ou a percebemos.

Tudo isto posto, notamos que as disciplinas da comunicação acolheram, de maneira praticamente integral, esta vocação fundacional dos saberes semióticos (a idéia de uma construtividade do mundo pelos signos), sem se aperceber daquilo que parecia mais apropriado a uma abordagem semiótica dos processos e estruturas expressivas mais próprios ao universo dos fenômenos e processos comuncacionais, de várias espécies. Assim sendo, reconhecemos tranquilamente as linhagens históricas, mais ligadas ao esforço de unificação das disciplinas do sentido e da significação, ao mesmo tempo em que ressaltamos os aspectos desta constituição teórica que nos afetam mais de perto, no campo da investigação comunicacional.

Entre outros casos, os primeiros esforços de Roland Barthes e de Umberto Eco, no sentido da uniformização teórica e metodológica das disciplinas semióticas, na sua proximidade com o universo da comunicação (durante os anos 60 do novecento), exemplificam a propriedade deste último ponto: de um lado, reconhecemos nestes dois autores as referências às fontes lingüísticas do problema da significação, na vertente do estruturalismo (Barthes), assim como o encontro de questões de estudos da narrativa com os problemas das teorias da interpretação textual, das teorias da recepção e da filosofia da linguagem coeva (em Eco); notamos igualmente em ambos a inflexão que estas questões teóricas assumem, uma vez que o olhar desta análise se redobra sobre as estratégias discursivas, narrativas e retóricas próprias (mas não exclusivas) à comunicação mediática.

Assim sendo, a introdução de um viés semiótico, no contexto histórico das disciplinas do sentido (gramática, semântica, sintaxe, morfologia, hermenêutica, poética, retórica, dentre tantas outras), exibe um diferencial que tem correlações bastante graves com a interrogação aos fenômenos e produtos que tipificam, por sua vez, uma cultura tão fortemente marcada pela influência dos meios de comunicação de massa (sendo que as primeiras incursões de Barthes e Eco nos fornecerão as mais ricas pistas e conseqüências teóricas e analíticas para esta exploração).

Conteúdo Programático:

Introdução: Do “que há” ao “o que quer dizer”, a matriz anti-metafísica de um discurso sobre os signos

1. Signos e metafísica: da pergunta sobre “o que há” ao estudo dos signos (Goodman, Quine e Eco);
2. As matrizes semióticas de uma “lógica da cultura”, em Eco e Kristeva.
3. O conceito semiótico de signo e a estrutura elementar da compreensão:
a. compreendendo relações entre (proposições sobre) fatos (signos e inferência);
b. compreendendo mensagens, palavras, sentenças, discursos (signos e compreensão textual)

Elementos de Semiótica: os fundamentos semiósicos da compreensão

1. Veículos e fins da significação: significante/fundamento, significado/interpretante:

1.1. Da confusão entre os signos e seus veículos: entre o significante e o fundamento:
a. a noção de veículo lógico da semiose: o fundamento (ground), em Peirce;
b. a inevitável materialidade da significação: o significante, em Saussure.
1.2. Dos remetidos à referência: o estatuto teórico do significado em Semiótica:
a. sinal, sentido e referência, na lógica semântica de Frege;
b. as formas do conteúdo, na semântica estrutural (Hjelmslev/Greimas)
1.3. De que modo significamos: os modelos semânticos, em Eco:
a. sentido direto e o modelo semântico do dicionário;
b. pragmática e semântica textuais e o modelo da enciclopédia.
1.4. Três excursos de semiose discursiva:
a. semiose, sinonímia e ironia na compreensão textual (o caso do discurso inidreto no jornalismo);
b. atos de fala na comunicação mediática (a enunciação no telejornalismo e na publicidade) ;

2. Simbolicidade, Imagem e Representação Visual:

2.1. Entre o “modo metafórico” e o “modo simbólico”: as duas faces da significação:
a. transparência e comunicabilidade: a relação entre simbolicidade e regra;
b. a irrealizabilidade da semiose simbólica: a estrutura ficcional da forma simbólica
2.2. Semiose visual e retórica: o estudo da significação da imagem no discurso da publicidade (Barthes):
a. as relações entre texto e imagem: as funções de ancoragem e de embreagem;
b. o que pode fazer a imagem significar: a imagem denotada e a imagem simbólica
2.3. Códigos icônicos e códigos perceptivos: elementos de uma semiótica das mensagens visuais (Eco)
a. o problema de uma “gramática” da imagem (Eco e Gombrich)
b. os múltiplos níveis de uma sintaxe da imagem (Eco e Prieto);
c. os códigos icônicos e as “linguagens”da percepção visual (Eco e Panofsky)
2.4. Um excurso prático: modelos de uma discursividade visual na imagem mediática contemporânea
a. reconhecimento e disjunção na semiose gráfica da caricatura;
b. rendição das ações e o sentido de testemunho no discurso visual do fotojornalismo;
c. como analisar os níveis do discurso visual na publicidade (Eco).

Procedimentos Didáticos:

O curso será estruturado inteiramente a partir das exposições do docente, cujas notas de apoio estarão disponíveis aos alunos ao final de cada aula para consulta de todos, na pasta da xerox na Faculdade assim como no blog da disciplina (www.semioticacom102.blogspot.com). Para o bom acompanhamento da disciplina, é mais que recomendável que a leitura dos itens bibliográficos de base esteja em dia, antes de cada exposição temática.

Formas e Critérios de Avaliação:

A avaliação de desempenho da disciplina compreenderá vários itens para seu exame, por parte do docente, divididos da seguinte maneira:

50% da nota final da disciplina será atribuída, através de uma avaliação escrita, versando sobre as unidades do programa, ao final do semestre (as formas específicas deste exame serão objetos de uma exposição detalhada, no momento da apresentação deste programa, no início do semestre);
40% da nota final será atribuída através de avaliações parciais, em forma escrita, sobre temas a serem definidos no decorrer da disciplina (as formas específicas deste exame serão objetos de uma exposição detalhada, no momento da apresentação deste programa, no início do semestre);
10% da nota final da disciplina será atribuída por critérios de participação e de engajamento, sob várias formas de aferição (assiduidade, pontualidade, envolvimento em sala de aula, inicitiva, atenção às exposições, respostas às questões propostas sobre os tópicos da disciplina durante o semestre, dentre outros).

Bibliografia:

AGOSTINHO, Santo. Mestre (trad. Antonio Soares Pinheiro). São Paulo: Landy (2006);
AUSTIN, John Langshaw. Quando Dizer é Fazer: linguagem e ação (trad. ). Porto Alegre: Artes Médicas (1990);
BARTHES, Roland. “A retórica da imagem”. In: O Óbvio e o Obtuso (trad. Lea Novaes). Rio: Nova Fronteira (1990): pp. 27,44;
BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia (trad. José Paulo Paes e Izidoro Blikstein). São Paulo: Cultrix (1988);
COLLINI, Stephan. “Introdução: interpretação terminável e interminável”. In: Eco, Umberto. Interpretação e Superinterpretação (trad. Mônica Stahel). São Paulo: Martins Fontes (2005): pp. 1,26;
ECO, Umberto. “Introdução: rumo a uma lógica da cultura”. In: Tratado Geral de Semiótica (trad. Antonio de Paula Dainesi e Gilson César Cardoso de Sousa). São Paulo: Perspectiva (1997): pp. 1,38;
ECO, Umberto. “Os códigos visuais”. In: A Estrutura Ausente (trad. Pérola de Carvalho). São Paulo: Perspectiva (1976): pp. 98,121;
ECO, Umberto. Semiótica e Filosofia da Linguagem (trad. Annamaria Fabris). São Paulo: Ática (1991);
ECO, Umberto. “Sobre o ser”. In: Kant e o Ornitorrinco (trad.Ana Thereza Vieira). Rio: Record (1998): pp. 17,54;
FREGE, Gottlöb. “Sobre sentido e referência”. In: Lógica e Filosofia da Linguagem (trad. Paulo Alcoforado). São Paulo: Cultrix (1978): pp. 59,86;
GINZBURG, Carlo. “Sinais: raízes de um paradigma inidiciário”. In: Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e História (trad. Federico Carotti). São Paulo. Cia das Letras (1990): pp. 143,180;
GOMES, Wilson. “Princípios de Poética (com ênfase na poética do cinema). In et al.: Comunicação, Representação e Práticas Sociais. Rio: PUC-RJ (2004): pp. 93,125;
GOODMAN, Nelson. “Palavras, obras, mundos”. In: Modos de Fazer Mundos (trad. Antonio Duarte). Porto: Asa (1995): pp. 37,61;
HJELMSLEV, Louis Trolle. “Signos e Figuras” e “Expressão e Conteúdo”. In: Prolegômenos a uma Teoria da Linguagem (trad. José Teixeira Coelho Neto). São Paulo: Perspectiva (1975): pp. 47,65;
JAKOBSON, Roman. “Olhar de relance sobre o desenvolvimento da semiótica” (trad. Benjamim Picado). Texto original “Coup d’oeil sur le developpement de la sémiotique” In: AAVV. A Semiotic Landscape (Eco, U; Chatman, S., Sebeok, T.; Klinckenberg, J.-M., orgs.). The Hague: Mouton (1979): pp. 3, 18 (texto de uso restrito à sala de aula);
JAKOBSON, “Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia”. In: Lingüística e Comunicação (trad. Izidoro Blikstein e José Paulo Paes). São Paulo: Cultrix (1991): pp. 34,62;
KRISTEVA, Julia. “A Semiótica”. In: História da Linguagem (trad. Maria Margarida Barahona). Lisboa: edições 70 (1974): pp. 409,448;
PEIRCE, Charles Sanders. “Questões sobre certas faculdades reivindicadas pelo homem” e “Algumas conseqüências de quatro incapacidades”. In: Semiótica (trad. José Teixeira Coelho Neto). São Paulo: Perspectiva (1990): pp. 241,282;
QUINE, W.v.O. “Sobre o que há”. In: Existência e Linguagem: ensaios de metafísica analítica (trad. João Branquinho). Lisboa: Presença (1990): pp. 21, 39;
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral (trad. José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix (2000);
SEARLE, John. “Expressões, significações e actos de fala”. In: Os Actos de Fala (trad. Carlos Vogt). Lisboa: Almeidina (1981): pp. 33,72.
SILVA FILHO, Waldomiro. “O conceito de interpretação em Umberto Eco” . In: Textos de Cultura e Comunicação. 28 (1993): pp.
SPERBER, Dan e WILSON, Deirdre. “Comunicação”. In: Relevancia: Comunicação e Cognição (trad.) Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian (2001): pp. ;
VOLLI, Ugo. Comunicação”. In: Manual de Semiótica (trad. Sylva Debetto C. Reis). São Paulo: Loyola (2007): pp.