Tuesday, August 25, 2009

Notas da aula inicial

Semiótica - COM 102

Aula no 0

Roteiro da exposição do curso/Semiótica:

1a aula: expor o programa e introduzir os conteúdos da disciplina, tudo isto a partir de uma série de questões a ser respondidas:

a. a Semiótica é, estritamente falando, uma teoria da comunicação?

O conceito de comunicação decerto importa para as teorias semióticas, mas podemos dizer que seu valor é menos importante para as teorias da significação do que se costuma supor. Nestes termos, devemos ter cuidado em raciocinar sobre a pertinência das teorias semióticas, condicionando-a a uma hipotética assimilação de seus conceitos e objetos ao universo das teorias da comunicação. Em termos, a semiótica é uma disciplina da compreensão e da interpretação, que são fenômenos subjacentes à comunicação.

b. se este não é o caso, qual o propósito de uma teoria geral da significação no contexto dos estudos sobre a comunicação ?

se vamos inquirir sobre as relações entre significação e comunicação, devemos, em primeiro lugar, destacar o lugar que o conceito de interpretação tem para as teorias semióticas. neste caso especificamente, o problema das teorias semióticas (ou ao menos de certas de suas correntes) diz mais respeito às condições sobre as quais assumimos a pertinência de certos fenômenos e objetos do entendimento, do que o fato de que eles podem ser eventualmente comunicados ou partilhados. Veremos, entretanto, mais adiante, que as teorias semióticas têm bastante concernimento com a questão da expressão que se liga a nossos modos de compreensão.

c. quais são os pontos comuns entre os vários fenômenos identificados com o interesse geral das teorias semióticas?

evidência da admissão anterior decorre precisamente do exame dos fenômenos aos quais as teorias semióticas historicamente se endereçaram, ao fixar seus objetos de interesse iniciais: assim sendo, nos sintomas médicos, na estrutura lógico-inferencial do pensamento, na manifestação dos costumes culturais, em todos estes casos, a orientação semiótica revela nestes fenômenos uma estrutura subjacente de sentido que é relativamente independente do (ou, numa hipótese mais discutível, transcendente ao) conceito de comunicação, ao menos aquele com o qual operamos usualmente (em geral, pensamos aqui num paradigma informacional destas teorias).

d. por onde recobrar, nas teorias semióticas, a dimensão comunicacional de seu objeto de estudos?

como já sugerimos um pouco mais acima, um modo possível de dimensionar a pertinência das teorias semióticas para a comunicação, é o de colocar a questão do necessário partilhamento do sentido interpretativo como uma componente essencial de nossos modos de compreender a realidade. assim definida a pertinência dos saberes semióticos (pelo viés das mútuas implicações entre significação, compreensão e interpretação), é necessário que vinculemos a realidade do sentido à sua essencial comunicabilidade, às necessárias partilha e expressividade que marcam todo e qualquer ato de compreensão de nossa parte (somente tem significação aquilo que pode ser compartilhado através de uma expressão, seja de que ordem esta for).

e. a partir de onde devemos começar a nos perguntar sobre aquilo que é da ordem do sentido?

se nos perguntarmos sobre o que origina a pergunta sobre os poderes da significação e da interpretação, na ordem dos regimes de nosso entendimento do mundo (os clássicos chamam a este problema os “fundamentos do conhecimento empírico”), decerto temos que nos restituir a uma das perguntas mais importantes e originárias da história do pensamento filosófico, e introduzir neste mesmo contexto, o valor próprio de uma perspectiva semiótica para esta questão; por razões que exibiremos com mais detalhes imediatamente adiante, propomos que a “questão sobre o ser” é este problema fundamental que lança a interrogação filosófica a um encontro com o problema da significação e da compreensão. Justamente por isto, este será o primeiro ponto de nossa exploração, no programa da disciplina.

f. como resumir o percurso das exposições deste programa? se pudéssemos oferecer as linhas gerais daquilo que se pretende demonstrar no decorrer destas exposições, diria que elas se revolveriam em torno dos seguintes pontos:

1. demonstrar que a pertinência dos saberes semióticos solicita uma atenção da reflexão sobre problemas fundamentais da história da filosofia, e que concernem a duas perguntas fundamentais:

  • o que há ou em que sentido a existência depende do sentido;
  • o que é saber, ou até que ponto o conhecimento da realidade depende dos signos;

2. destacar as relações pelas quais o problema da significação se restitui à dimensão comunicacional da compreensão: examinar, neste quadro, como se relacionam as condições interpretativas da compreensão e o aspecto discursivamente organizado dos objetos do entendimento;

3. identificar os conceitos fundamentais das teorias semióticas (signo, significado, sentido e significação, semântica e pragmática, símbolo e metáfora, inter alia) e os modos como eles se articulam, dadas as concepções das várias escolas desta disciplina sobre as estruturas elementares de nossa compreensão do mundo e das expressões textuais através das quais ela é representada e comunicada.

Próximas leituras:

Goodman, Nelson. “Palavras, obras, mundos”. In: Modos de Fazer Mundos;

Quine, W.V.O. “Sobre o que há”. In et al.: Existência e Linguagem: ensaios de Metafísica Analítica;

Volli, Ugo. “Comunicação”. In: Manual de Semiótica